A forma como comunicamos diz muito sobre o nosso estilo de liderança! Se formos bons líderes, seremos certamente bons a comunicar. Mas mesmo os bons líderes por vezes caem em determinados erros que podem “minar” logo à partida qualquer processo de transformação digital!
Infelizmente, particularmente em Portugal, vemos muito nos pequenos e médios empresários uma certa cultura paternalista, aliada à boa intenção que é não querer preocupar as pessoas, não as sobrecarregar, pensando sempre que elas estão lá para fazer o trabalho delas e por isso é melhor deixá-las fazer apenas isso! Eles, enquanto líderes é que estão lá para pensar e tomar decisões! Acreditam que estão ali para proteger as pessoas e cuidar delas, mas o que acontece é que acabam por reduzir drasticamente a sua capacidade de autonomia, decisão e de ação! E isso leva consequentemente à exaustão e ao desaproveitamento crasso dos recursos que têm!
Todas as pessoas numa organização, desde a administrativa até ao CEO, têm neurónios e pensam. São criativas e conhecem muito bem um determinado angulo de visão sobre a empresa e os seus processos específicos, contendo em si o potencial de aportar ideias e soluções únicas para a mesma! Todos podem ser mais produtivos e responsáveis se lhes forem comunicados naturalmente dados, objetivos e responsabilidades!
Os empresários e chefias que abarcam tudo sozinhos ficam exaustos porque têm um grande número de pessoas a trabalhar que só faz o que se lhes manda. E essas pessoas acabam por se conformar com isto porque não têm visibilidade, objetivos, informação e comunicação suficiente para poderem ser autónomas e responsáveis.
Quando ouvimos dizer que um processo de transformação digital deve começar pelas pessoas, está-se a falar em envolver mesmo as pessoas, responsabilizando-as e comunicando abertamente porque se está a fazer essa transformação digital na organização.
Na ausência de informação as pessoas tendem a unir os pontos da forma mais patológica possível e existem estudos que o comprovam. Temos tendência para “fazer filmes” negativos na nossa cabeça quando não sabemos a história toda. E as pessoas de uma organização, se forem mantidas “no escuro”, não sendo devidamente informadas de nada, pensarão logo no pior, que a gestão decidiu digitalizar para poder começar a despedir colaboradores.
Se um líder não disser nada às pessoas da sua organização, o que está a querer implementar, qual é o benefício para elas, que vão por exemplo, passar a ter mais tempo para outras tarefas que acrescentem ainda mais valor ao que fazem, se não as envolver para elas participarem e perceberem que continuam a ser importantes e relevantes, as coisas vão correr mal e vai haver muita resistência à mudança!
Daí que um dos princípios fundamentais de qualquer processo de transformação digital seja o de colocar sempre todas as pessoas no loop, em todas as etapas do mesmo!
Frases que ouvimos recorrentemente no mundo empresarial como “sempre foi assim que fizemos”, ou “burro velho não aprende línguas” têm de acabar e as pessoas têm de ser envolvidas nos processos de mudança e transformação para aceitarem e ajudarem na mesma!
Não esqueçamos que quando falamos de liderança numa organização, o líder não é só o empresário ou o CEO! Dentro duma empresa existem vários líderes, isto é, pessoas capazes de inspirar e influenciar os outros!
Por isso a comunicação é tão relevante na digitalização das organizações e empresas! Comunicar bem é “colocar em comum” e temos de fazer deste tipo de processos um lugar-comum para cada pessoa que faz ou fará parte deles.
Textos retirados e adaptados do evento: Desafios da Transformação Digital nas Organizações (20/09/22). Oradora Susana Barros.